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FAIXA

FAIXA A

Conheça o disco Maria Alice canta Paulo Simões em um descritivo "faixa a faixa" na visão de Rodrigo Teixeira, jornalista.
FAIXA 01

FAIXA

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(Guilherme Rondon/Paulo Simões)

PAIAGUÁS

Uma das músicas mais representativas e inspiradas da parceria entre Paulo Simões e Guilherme Rondon. Lançada em 1991, no LP Rondon & Fígar, “Paiaguás” ganhou o Prêmio Sharp de melhor composição e ajudou a formatar um estilo musical sul-mato-grossense regado pelo ritmo ternário das levadas fronteiriças do Paraguai e Argentina. 
Na parceria com Rondon, que cria a harmonia e melodia da música, Simões fica sempre responsável pela letra. Em “Paiaguás” ele descreve uma viagem para esta região homônima, uma das mais bonitas do Pantanal, e o desejo de “nunca mais sair” daquele paraíso que “parece ilusão”. 
“Paiaguás” ganha uma nova roupa na voz de Maria Alice. O arranjo enfatiza a levada e a melodia original do violão de Guilherme Rondon, uma das marcas da música. No entanto, a faixa soa revigorada em tons mais fortes de jazz na estética regional fronteiriça e com uma pulsação de grande dinâmica feita pela “cozinha” formada pelo baterista Adriel dos Santos e o baixista Gabriel Basso. Destaque ainda para o solo certeiro de Gabriel de Andrade na guitarra e os contracantos na medida de Marcellus Anderson no acordeon. Também é perceptível o eficaz trabalho vocal de Gílson Espíndola, que soa discreto, no apoio à cantora Maria Alice. 

FAIXA 02

(Almir Sater/Paulo Simões)

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SERRA DE MARACAJU

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“Serra de Maracaju” se enquadra em um estilo de composição desenvolvida por Paulo Simões com Almir Sater que é uma exaltação às qualidades locais, à fauna, à flora e aos desbravadores da região que se tornou o Mato Grosso do Sul. Eles exploram o mesmo tema em outras parcerias, como “Milhões de Estrelas”, “Sonhos Guaranis” e “Terra Boa”. “Serra de Maracaju” é uma ode ao sentimento de “ser sul-mato-grossense”, ao respeito à herança indígena, à fatídica invasão espanhola-portuguesa, ao processo de migração dos desbravadores destes “antigos lagos de Xaraés”... 
A letra destaca um dos símbolos maiores da geografia sul-mato-grossense, a imponente Serra de Maracaju. O local, aliás, é o ponto de ligação entre Maria Alice e Paulo Simões, já que pertencem à mesma família Corrêa, uma das pioneiras da região. 
Lançada por Almir Sater no CD “7 Sinais”, em 2007, “Serra de Maracaju” ganha uma versão em compasso mais lento, com ares eruditos, sem perder a pulsação fronteiriça, em um chamamé com cheiro de chacarera. A interpretação sensível de Maria Alice traz sentido à letra, um passeio pelos ícones e símbolos regionais que deram suporte para a constituição da identidade sul-mato-grossense. Destaque para a agradável sonoridade eletroacústica (que irá ditar o ritmo do disco) e o arranjo instrumental, que atinge momentos inspirados, como o belo duo de guitarra e acordeon entre Gabriel de Andrade e Renan Nonato. 

FAIXA 03

(Almir Sater, Paulo Simões e Renato Teixeira) 

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D DE DESTINO 

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“D de Destino” concorreu ao prêmio de “Melhor Canção de Língua Portuguesa” no Grammy Latino 2016, quando o disco “AR”, de Almir Sater e Renato Teixeira, venceu na categoria “Melhor Álbum de Música Raízes Brasileiras”. Paulo Simões e Renato Teixeira, principais parceiros de Almir Sater, nunca haviam composto juntos. 
O resultado é uma letra épica, que utiliza imagens do nosso inconsciente coletivo, como a cigana que prevê o futuro lendo as linhas da palma da mão, o calvário de Jesus na crucificação e a valentia dos forasteiros desbravadores do norte. São recortes que questionam a fé, a crença e a determinação do ser humano. 
Baseada em uma técnica conhecida, que é o uso da primeira letra da palavra para desenvolver metáforas, como “Era um D de destino, um E de esperança ou de encruzilhada”, a música tem uma melodia de fácil assimilação e um refrão que levanta questões existencialistas-pacifistas: “Quero viver muito além das fronteiras, dos que só sabem ser pedras de atiradeira!” 
Na voz de Maria Alice, “D de Destino” ganha uma vestimenta sonora de baladona em 6x4. Com o apoio certeiro de Gílson Espíndola no vocal e a banda estabelecendo uma dinâmica que produz diferentes climas durante o arranjo, Maria Alice imprime uma interpretação segura que consegue tornar atrativa e destacar a mensagem contida na letra. Os duetos entre guitarra e acordeon marcam o arranjo e seguem a sonoridade “regional-jazz” do disco. 

FAIXA 04

(Almir Sater/Paulo Simões)

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CUBANITA

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Paulo Simões é um letrista que jamais parou no tempo, vem sempre se modernizando e é dono de uma criatividade surpreendente. “Cubanita” é a prova disso. Como em uma espécie de roteiro de cinema, descreve lugares, situações cotidianas, destila ironias políticas e monta cenas amorosas. Disto nasce a cativante e sensual personagem latina Cubanita, que “sumiu, evaporou e não deixou pista”. 
“Cubanita” foi lançada por Almir Sater no CD “7 Sinais”, em 2007, e posteriormente Paulo Simões gravou em seu CD “Canções Simplesmente Canções”, de 2012. Com certeza, uma das composições mais inspiradas da dupla Simões/Sater. A música ganha andamento lento na versão de Maria Alice, provavelmente a primeira mulher a cantar não só “Cubanita”, mas todo este repertório, geralmente visitado por intérpretes masculinos. 
Maria Alice está notadamente à vontade explorando mais os seus agudos e a região mais grave fica para Gílson Espíndola, resultando em uma excelente textura vocal. Neste arranjo se investe ainda mais nos duetos convencionados entre a guitarra de Gabriel de Andrade (que nesta faixa faz também vocal junto com Gílson) e o acordeon de Renan Nonato. 

FAIXA 05

(Guilherme Rondon/Paulo Simões)

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ORDEM NATURAL
DAS COISAS

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“Ordem Natural das Coisas” é provavelmente a música mais conhecida de Paulo Simões com Guilherme Rondon. Lançada no histórico LP Rondon & Fígar, de 1991, e gravada por Paulo Simões em 1997, a composição também integrou a trilha sonora do remake da novela “Paraíso”, da Rede Globo, em 2009, na interpretação de Rodrigo Sater. Canção cativante, uma espécie de música de cura, que semeia esperança e o equilíbrio universal. “...o caminho para ser feliz é viagem para quem não tem pressa...” Mais uma pérola produzida por Simões e Rondon. 
Entre as músicas do repertório do disco de Maria Alice, “Ordem Natural das Coisas” é a que mais se distanciou da versão original. Gabriel de Andrade surpreende com um arranjo que desconstrói a herança blues e folk da composição, altera a harmonia, imprimi um clima minimalista na primeira parte da canção e cria um inspirado dueto para guitarra e acordeon. Maria Alice comprova a experiência de anos de estrada e consegue se adaptar sem esforço à nova roupagem. 

FAIXA 06

(Antônio Porto/Paulo Simões)

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TRISTE E
TÃO BELA 

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Conhecido por suas letras com referências regionais, Paulo Simões também escreve sobre as relações pessoais com grande criatividade e é um astuto criador de metáforas. “Já vi claridades que o tempo reduz à luz de uma vela” destila com grau elevado de ironia e lucidez, finalizando com uma frase que revela o enorme poder descritivo do autor: “Abre a janela, mão quero mais te ver triste e tão bela”. O parceiro Antônio Porto é talvez aquele que mais eleve as palavras de Paulo Simões para um patamar universal, ampliando os limites do regionalismo. 
Lançada pelo próprio compositor em 2012, no disco de Maria Alice “Triste e Tão Bela” vem com compasso alterado para o ritmo ternário e as participações de Antônio Porto no baixo e Pedro Ortale no violão 7 cordas, instrumento que empresta um novo colorido à textura sonora do disco. Essa é uma das poucas faixas em que não está presente o acordeon. Já a guitarra e o violão 7 cordas juntos produzem uma ambiência agradável, trazendo ares eruditos e mineiros para a balada romântica que tem uma melodia que fica na cabeça.  

FAIXA 07

(Celito Espíndola/Guilherme Rondon/Paulo Simões)

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LABAREDAS 

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“Labaredas” de Paulo Simões, Celito Espíndola e Guilherme Rondon é uma composição do final dos anos 1980 que busca capturar o clima caliente da música latino-americana. Gravada por Celito em seu disco solo, em 1996, e por Simões no “Expresso-Arrasta-Pé – vol. 2”, em 1997, a letra descreve sortilégios e percalços amorosos com a “serpente negra do ciúme a envenenar”, sem deixar de usar frases em espanhol, como “señorita por donde estás?”, uma marca da música sul-mato-grossense. 
Sem a presença do acordeon e com a excelente participação no piano de Otávio Neto, “Labaredas” segue na linha do chamamé-jazz, com um clima perfeito da cozinha formada por Adriel Santos (bateria) e Gabriel Basso (baixo) e um solo de guitarra que mostra porque Gabriel de Andrade está entre as principais revelações da música sul-mato-grossense. Essa é outra faixa em que o vocal de Gílson Espíndola funciona como uma luva no apoio à Maria Alice. 

FAIXA 08

(Guilherme Rondon/Paulo Simões)

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ÚLTIMA BOIADA 

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Composição de Paulo Simões com Guilherme Rondon que tem como protagonista um personagem clássico da música sertaneja: o peão de boiadeiro. Letra inspirada de Simões, que usa o cativante toque do berrante como sinal de partida e chegada do personagem para a mocinha apaixonada com direito a cenários rurais românticos, rimas com palavras paroxítonas e um final feliz para a história como pede um bom folhetim. 
A toada “Última Boiada”, que se transforma em rasqueado, foi gravada por Celito Espíndola em seu disco solo de 1996 e pelo grupo Chalana de Prata em 1998. A versão de Maria Alice segue os arranjos originais e consegue criar o clima musical propício para a história, que termina com muita animação em ritmo de polca, como os bailes costumeiros nas fazendas e cidades do interior de Mato Grosso do Sul. 

FAIXA 09

(Guilherme Rondon/Paulo Simões) 

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ESTRANHAS COINCIDENCIAS

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Mais uma parceria de alto nível musical de Paulo Simões com Guilherme Rondon. Se por um lado “Estranhas Coincidências” possui uma harmonia rica criada por Rondon, que extrapola os três acordes básicos da música fronteiriça, de outro a composição ganhou uma letra que revela outra faceta de Simões, a de poeta existencial, sempre construindo metáforas originalíssimas para descrever situações, pensamentos e desvarios filosóficos. 
“Avisos e profecias, tentamos ignorar, quando as luzes são intensas cegam o nosso olhar”, escreve na canção feita nos anos 1980. “Estranhas Coincidências” foi gravada por Simões no disco “Expresso Arrasta-Pé – Vol. 1”, de 1992, e por Rondon no CD “Piratininga”, de 1993. 
Na versão de Maria Alice, “Estranhas Coincidências” segue o arranjo original, mantendo a convenção final e num crescente vai chegando ao ritmo acelerado da polca, em uma mistura que foi se tornando a própria marca do que se convencionou chamar de música regional sul-mato-grossense. 
Essa é mais uma faixa em que fica evidente a voz marcante e a interpretação elegante de Maria Alice, além da participação fundamental de Gílson Espíndola nos vocais. O quarteto instrumental mais uma vez mostra um ótimo entrosamento e soa perfeita a soma dos timbres da guitarra ‘al natural’ e do acordeon em dueto.

FAIXA 10

(Celito Espíndola/Guilherme Rondon/Paulo Simões)

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ESPELHO DESLIZANTE

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“Espelho Deslizante” é uma obra prima da música sul-mato-grossense. Embalada por fina melodia e criativa harmonia, a canção traz uma letra primorosa, com rimas paroxítonas e fonética perfeita que revela a grande experiência e afinidade dos três compositores. A composição segue a linha de músicas que semeiam a esperança e emitem mensagens positivas, como “o sol precisa se pôr pra que a manhã se levante e o meu coração é semelhante” ou “a vida deve levar as mágoas pela vazante, saudade é um rio murmurante”. 
É um hino de um mundo melhor e que exalta singelezas, como a pescaria para passar o tempo, este “espelho deslizante”. Gravada primeiramente por Celito Espíndola em 1996 e por Guilherme Rondon em 2011, a canção ganha um arranjo delicado e uma interpretação sensível na voz de Maria Alice. Marcados pelos contrapontos do acordeon de Renan Nonato e a marcação sutil da bateria e do baixo, os vocais de Gílson Espíndola fazem a cama perfeita para Maria Alice saborear cada sílaba das palavras, que parecem terem sido escolhidas a dedo para se encaixar na melodia. 

FAIXA 11

(Paulo Simões)

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VELHOS AMIGOS

FAIXA

“Velhos Amigos” está entre as grandes canções da música popular brasileira dedicadas à amizade, assim como “Canção da América”, de Milton Nascimento e Fernando Brant. O detalhe é que Paulo Simões desta vez compôs sozinho, algo raro em seu histórico de compositor. 
A canção é uma declaração de amor de Simões a seus amigos, que naquele final dos anos 1970 estavam criando as bases da música sul-mato-grossense. Canção símbolo da geração de Simões, que modernizou a cultura musical de Campo Grande a partir de meados da década de 1960, “Velhos Amigos” foi gravada primeiramente por Almir Sater no LP “Estradeiro”, de 1981, e depois por Paulo Simões no disco “Expresso Arrasta Pé”, de 1992. 
No arranjo do disco de Maria Alice, “Velhos Amigos” é cantada em dueto entre ela e o próprio Simões - uma verdadeira celebração à amizade. A canção vem delicadamente renovada, com a harmonia alterada do original na parte de Maria Alice, até cair na toada valseada que caracteriza a música manifesto. A ponte instrumental criada para modular o tom para a entrada de Paulo Simões no vocal é de grande eficiência. 
A participação do próprio compositor na faixa é o ponto alto do disco, como uma espécie de aval a Maria Alice como intérprete de sua obra e agradecimento à homenagem inédita. O vocal ganha ainda o reforço de João Pedro, Anderson Rocha, Gabriel de Andrade e Gílson Espíndola. Emocionante!

FAIXA 12

(Almir Sater/Paulo Simões)

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VASO QUEBRADO 

FAIXA

“Vaso Quebrado” representa a primeira parceria de Paulo Simões com Almir Sater após o violeiro se mudar para o Pantanal no começo dos anos 1990. Presos na varanda devido ao mau tempo, com raios caindo e a chuva se armando, os dois desistem da pescaria e banho de rio. “Pensei ser ventania, logo veio tempestade!” 
Gravada primeiramente por Almir Sater no CD “Terra de Sonhos”, em 1994, e pelo próprio Paulo Simões em 1997, “Vaso Quebrado” traz na letra uma história de amor que chegou ao fim, com o título da canção servindo de metáfora. 
Com o ritmo da música mais acelerado, alternando a cadência do chamamé e da polca, a nova versão destaca a interpretação segura de Maria Alice, que canta com alegria e vontade, desta vez sem os vocais de apoio de Gílson Espíndola. Confirmando ser uma das principais intérpretes de Mato Grosso do Sul, a cantora se adapta muito bem ao arranjo em que brilha o acordeon chorado de Marcelus Anderson. Nesta faixa participam também o baixista Kinho Guedes e João Pedro Ortale, filho de Maria Alice e Pedro Ortale, que imprime à bateria uma sonoridade mais polca-rock do que jazzística.

Maria Alice • ©2023 por Sann Impressos e Digitais.

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